"Sexo com Christian Grey"

"(...) Ontem, à noite, fiquei no computador escrevendo qualquer coisa.  Minha esposa, que estava no sofá, levantou-se e foi para o banho. - Computador, à noite, é quase sempre assim: a pessoa fica boquiaberta, da um clique aqui, outro ali, as imagens passam, mas nada realmente chama a atenção.

Percebo que a porta do banheiro se abre, e vejo a silhueta dela indo para o quarto, ela está nua e seu corpo ainda desprende o vapor da água quente. Repentinamente o computador perdeu a graça. Fecho os programas, botão iniciar, desligar. Olho para a porta do quarto, ela está fechada, e a luz que passava na fresta da porta, também se apaga. Ansioso, desligo o estabilizador.

Apressadamente arranco as minhas roupas, vou para o banho, depois escovo os dentes, apago a luz do banheiro. Vou até a sala e ligo o aparelho de som, coloco uma música romântica, pego um castiçal e acendo a vela. Apago a luz da sala e vou para o quarto.

Abro a porta vagarosamente. Coloco o castiçal em cima de um armário. Fico admirando aquele corpo mal coberto por um lençol branco. A lingerie é negra como a noite. A chama da vela que trêmula faz as sombras tecerem um clima perfeito para fazer amor. No som começa a tocar Sinéad O'Connor, Nothing Compares 2 U...


Deito-me ao seu lado, olho novamente para aquele corpo esculpido delicadamente pelas mãos do Criador. Admiro as curvas que tantas vezes eu já havia tocado, mas sempre como se fosse a primeira vez.

Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro, aproximo-me de seu pescoço. O seu cheiro faz aumentar ainda mais a vontade de tê-la em meus braços, mais uma vez. Começo a tocar os meus lábios perto de sua orelha, beijo o seu pescoço. Percebo que ela acorda, mas permanece imóvel querendo mais.

Minhas mãos afastam um pouco mais os seus cabelos, meu hálito de menta invade totalmente aquela deliciosa parte do seu corpo. Ela ainda esta imóvel, mas sinto a sua respiração ficar mais forte.

Minha mão desce até a sua coxa, toco-a levemente, apertando delicadamente aquelas pernas bem torneadas... - Começa a tocar Adele, Set fire to the rain, a sua música predileta...



Começo a acariciá-la com meus dedos, passo pela cintura, aventuro-me em seu ventre e subo, sem pressa, em direção ao seu delicioso busto. Beijo-a em seus lábios! Enquanto os braços dela, agora,  envolviam o meu corpo, minha mão envolvia o seu rosto enquanto a beijava.

O tremular das sombras excitavam a minha imaginação, o fogo da chama, aquele corpo delicioso, aquela alma feminina que fazia com que eu a desejasse cada vez mais..."



A porta da sala se abre, é a minha esposa que chega da faculdade. Cumprimento cordial, ela vai para a cozinha, enquanto eu continuo no computador, digitando o meu texto "que eu a desejasse cada vez mais e mais, para sempre..."

"Não lavou a louça, por quê?", pergunta ela, quebrando, novamente, a minha narrativa erótica.

"Fiquei escrevendo umas coisinhas. É o meu romance erótico...", disse, e completei, "mas estava indo agora mesmo lavar, meu amor"

"Terminei de ler o livro", falou ela enquanto comia alguma coisa.

"Qual?", perguntei, terminando de lavar as poucas louças.

"Cinquenta tons de cinza", disse sorrindo.

"Fala sobre o quê?", questionei.

"Sexo, muito sexo", falou sorrindo mais ainda, enquanto caminhava ao banheiro para o banho.

Enxuguei o último copo, corri para o computador: Google, cinquenta tons de cinza: sexo e muita depravação... as mulheres adoram... dominação... sadomasoquismo... objetos sexuais... "cara, pra que servem essas bolinhas?"

A porta do banheiro se abre, ela toda nua, segura-se na porta do quarto, toda insinuante, "vem pra cama amor?", e dá uma piscadela safada, fechando a porta.

"Só vou desligar o computador e já estou indo!", disse percorrendo os olhos na página que eu havia escrito, que tratava de amor romântico, e percorrendo os olhos nos comentários sobre o livro Cinquenta Tons de Cinza.

Fiquei sem saber o que fazer: ligar uma música romântica e ficar parecido com Don Juan, ou correr no jardim, arrancar um galho, usar de chicote e ficar parecido com o maldito Christian Grey?

É o fim, essas mulheres não se decidem, uma hora o Don Juan é maravilhoso, depois falavam que o vampiro Edward Cullen era o cara, e que a Bella era a mulher mais sortudo do mundo, e agora me vem com esse tal de Christian Grey! Quem será o próximo?!

Fico na dúvida: deixo o cavanhaque crescer e compro uma máscara preta, compro uma dentadura de plástico e faço de conta que sou um vampiro, ou compro um chicote, uma algema e outros brinquedinhos mais?

Ela me chama mais uma vez para o quarto. Eu olho para o relógio, amanhã tem que trabalhar cedo e, de repente, começou a doer a cabeça - elas sempre usam essas desculpas, por que eu não posso? A consciência diz "você é homem ou não é?", coço a cabeça, penso "serei eu mesmo! nem Don Juan, vampiro ou Christian Grey; serei eu, só eu! e se não tiver bom, ela é que saia, não vou ficar fantasiando ser esse ou aquele, vou honrar as cuecas que uso".

Fiz cara de mau, abri a porta do quarto... ela nua, com uma coleira preta no pescoço, olhando-me de modo sensual e com um chicote na mão, que ela joga para mim.

"Vem meu Christian Grey, sou toda sua, para você fazer o que você quiser", disse ela, mordendo os lábios.

Bem, sem pensar muito, cheguei a conclusão que há momentos em que o homem não está numa boa posição para discutir o caso (se é que você me entende!), então, mesmo "contrariado", peguei o chicotinho e pensei "só por hoje, mas só por hoje mesmo, serei esse tal do Christian Grey!"





imagem 1 http://extra.globo.com/noticias/educacao/vida-de-calouro/harvard-tem-seu-primeiro-grupo-para-sadomasoquistas-7055054.html
imagem 2http://papodemeninos.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html





Comentários