Se minha esposa estivesse viva falaria “mas que vergonhice
hein!”, mas como ela não está, compartilho essas memórias, antes que o sorrateiro senhor Alzheimer também as leve.
Entre quatro paredes, fazia muito tempo que não ficava com
uma moça tão jovem, que beirava seus 20 aninhos.
Eu estava sério e
preocupado, ela serena, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Fechou a porta, uma meia luz entrava por uma pequena
janela, o lençol branco perfeitamente esticado, ao canto uma poltrona.
Trocamos olhares, ela pediu para que me deitasse.
Deitei-me, é claro, apreensivo para saber qual seria a sua
próxima ordem.
Ela, com aqueles olhos castanhos claros, penetrou em minha
alma e disse "abaixe as calças até os joelhos".
Nesse exato momento queria que o quarto estivesse um pouco
mais escuro. Para ser sincero, muito mais escuro.
Acho é nesse momento que você pensa, “mas que vergonhice
hein”, bem como a minha amada esposa faria. Mas como ela não estava lá, eu e
aquela jovem moça continuamos o nosso breve encontro.
Posicionei as mãos para arriar a vestimenta e juro que o
meu coração bateu mais forte.
Olhei para ela e perguntei com minha voz
envelhecida pelo tempo, “a cueca também?”
Ela me olhou mais fundo nos olhos ainda, e pensou a mesma
coisa que minha esposa estaria pensando, “mas que vergonhice hein!”, então
respondeu com sua voz fria e suave “não, só a calça”.
Abaixei enquanto ela segurava uma toalhinha para cobrir a
minha pélvis. Depositando-a na magreza após eu baixar a calça.
“Agora é só aguardar o doutor, por gentileza”, e saiu,
deixando-me ali, sozinho com as calças arriadas, naquela salinha branca,
esperando um doutor para fazer um... como é mesmo o nome... memórias já começam
a ir... ah, sim, ultrassonografia na região abdominal.
Para minha sorte, o doutor era mesmo doutor e não doutora,
e pelas rugas em seu rosto, mais experiente que eu. Respirei aliviado e o
coração começou a bater em seu ritmo lento e compassado.
Enquanto ele fazia o exame, pensava que mesmo com a minha idade,
como uma garota me deixava com o coração acelerado após pedir para eu abaixar a
calça, mas agora, por vergonha. “Como tudo muda!”.
“Tudo certo”, falou o doutor, “mas se lembre de voltar
daqui a seis meses”, completou.
Ah, que aflição, já começo a sofrer de novo por antecipação...
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